sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Salvem Salvador!


Cada vez que volto a Salvador, renovo meu axé, a força sagrada da vida. Reencontrar amigos e conhecidos, rever a beleza da Baía de Todos os Santos e mergulhar nas águas do Porto da Barra me dão ânimo para continuar seguindo, lutando, enfim, vivendo, pois viver é lutar. Entretanto, em minhas últimas visitas à capital da Bahia que me deu régua e compasso, além do axé renovado, eu trago, comigo, um tanto de tristeza em relação à feiura que vem cobrindo a cidade - feiura que se expressa no abandono do Centro Histórico de Salvador, nas praias sujas e tomadas por um mercado informal desorganizado, quase violento e, principalmente, num trânsito caótico.

Como dizia o outro, não sou de reclamar, mas, se estamos nesse cano, eu não posso me calar! Em relação ao Pelourinho e ao Centro Histórico, eu já havia escrito um artigo em que alertava para o fato de que o espaço estava voltando a ser aquele velho mangue que fora um dia. Ora, se, por um lado, o mangue traz, de volta, uma fauna que dá um colorido mais, digamos, intenso ao Centro Histórico, por outro, essa mesma fauna, quando entregue à própria sorte e, principalmente, quando não administrada pelo poder público, acaba por afastar o restante da população local e os turistas daquele que é um patrimônio da humanidade.

É impossível que o prefeito de Salvador e seu secretariado desconheçam os inúmeros relatos de roubos e furtos nas ruas do Centro Histórico; de extorsões por parte dos “flanelinhas”, que, quando não recebem o que acham que merecem, depredam os carros dos visitantes; e do assédio agressivo de vendedores ambulantes e pedintes aos que vão ao Pelourinho apenas visitar e fotografar seu casario e igrejas. É difícil para o poder público entender que a autoestima de um povo está ligada também à preservação de seu patrimônio histórico-cultural? Será difícil conciliar políticas sociais com políticas culturais? Será difícil preservar o Pelourinho como uma atração turística - o que inclui dar segurança e conforto aos turistas e visitantes locais - que trará divisas para a cidade?

E por falar em conforto para os turistas e população local, o que está acontecendo com a praia do Porto da Barra é lamentável. A certa hora, as areias mais parecem um lixão do que um lugar onde se vai relaxar sob o sol. É certo que a maioria dos frequentadores é mal-educada e insensível, incapaz de recolher seu próprio lixo ao sair ou, ao menos, impedir que as ondas o arrastem para o mar.

É certo também que os comerciantes informais que vivem da venda de comidas e bebidas ou do aluguel de cadeiras e sombreiros em nada colaboram para a limpeza e organização do lugar que lhes dá o “pão de cada dia”, muito pelo contrário: constrangem os banhistas com seus gritos e brigas entre si. Porém, por que o poder público não disciplina o comércio local, limitando o número de cadeiras que possa ser alugadas e fiscalizando a qualidade dos produtos oferecidos? Por que não há, em curso, uma campanha de educação ambiental que envolva banhistas e comerciantes e que dure o Verão inteiro?

Por fim, temos agora um trânsito caótico na cidade. Enquanto rolaram, por quase duas décadas, as tenebrosas transações que levaram à construção de um metrô que liga o nada ao lugar nenhum e que, portanto, não beneficia a população carente que mais precisa de transporte de massa rápido, enquanto rolaram essas tenebrosas transações (que, pasmem, ainda não levaram a uma CPI que as investigue), as frotas de ônibus e carros aumentaram significativamente sem que uma reengenharia de trânsito eficaz fosse feita, o que acabou levando aos frequentes engarrafamentos e congestionamentos.

Quando o metrô era só uma promessa, o argumento era que ele desafogaria o trânsito, porque levaria à redução das frotas de ônibus e de carro. Ao fim e ao cabo, o que nós temos é uma serpente de concreto de quatro quilômetros a sujar a paisagem da cidade. Se o poder público vem se mostrando incompetente na gestão da cidade, o que resta aos soteropolitanos? Talvez pedir a todos os santos da Baía que salvem Salvador!

Por; Jean Wyllys,Jornalista, Escritor e Vencedor do BBB5

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