quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dilema de João envolve Wagner e ACM Neto



Depois de uma reeleição na qual muitos poucos acreditavam, o prefeito de Salvador, João Henrique (PMDB) começa agora a encarar o drama da sua sucessão, embora ainda faltem dois anos e quase dois meses para o final do seu mandato. Célebre por ter feito sua carreira política, como vereador e deputado, sempre na base da geração de fatos em defesa dos consumidores, João Henrique nunca teve reais compromissos políticos ou ideológicos com nenhuma corrente de pensamento ou com lideranças maiores. Como prefeito seguiu na mesma toada, o que terminou deixando-o isolado no Palácio Thomé de Souza e chegou ao último ano do seu primeiro mandato com avaliação pública e popularidade no rés do chão. Deixou o PDT sem nenhuma hesitação, em 2006, quando o então ministro Geddel Vieira Lima dispôs-se a lhe lançar o bote salva-vidas do PMDB, oferecendo o apoio do Ministério da Integração Nacional e apostando seu prestígio na campanha da reeleição, mesmo à custa de produzir a primeira grande fissura na sua relação com o até então aliado governador Jaques Wagner e com o PT.

Reeleito, o prefeito fez juras de gratidão,amor e fidelidade a Geddel, mas tratou de recompor-se com o governador Jaques Wagner, no que agiu certo uma vez que as grandes dificuldades para administrar uma cidade como Salvador se tornam gigantescas quando se entra em choque com o governo estadual. Porém, a vida segue e, ao aproximar-se a eleição estadual, houve o rompimento definitivo entre o PMDB e o PT, o que colocou o prefeito na berlinda e em rota de afastamento com o ex-ministro, movimento que foi auxiliado pela primeira dama do município, deputada estadual Maria Luíza sempre incomodada pelas restrições que seu desejo de mandar na máquina administrativa sofria com a presença peemedebista em áreas importantes da Prefeitura.

João Henrique tentou manter as aparências na campanha do primeiro turno, mas caiu fora de vez dos braços de Geddel Vieira Lima e, enquanto sua mulher fortalecia os laços políticos com ACM Neto (DEM), pongou no barco do governador em favor de Dilma Rousseff. Vitoriosa a candidatura petista, o prefeito de Salvador está tomado de fervor quase religioso pró Wagner e Dilma. Sonha em prosseguir com uma reforma administrativa, reabrindo espaços para o PT ou figuras ligadas a petistas – como já fez no caso da Secretaria de Saúde – na tentativa de alargar os dutos de dinheiro e projetos da área federal para a capital baiana e poder, assim, melhorar a imagem da sua administração e chegar ao fim do seu segundo mandato em situação mais favorável do que a registrada no início de 2006.

Só que é aí, como se diz lá em Coaraci, que a “porca torce o rabo”. Porque o prefeito volta a ficar numa berlinda das maiores, uma vez que o PT vai lançar candidato à Prefeitura de Salvador – o senador eleito Walter Pinheiro, com a ambição de sempre, continua de olho no Thomé de Souza, embora jure que não, e o deputado Nelson Pellegrino sonha em disputar novamente – e o DEM não pode abrir mão de disputar o cargo, sob pena de perder de vez sua importância política no Estado.

Para complicar ainda mais a situação de João, o nome que sonha com a vaga de prefeito é o deputado federal ACM Neto, principal aliado da deputada estadual Maria Luíza, que tem muito a agradecer ao democrata pela reeleição. Neto quer refazer o caminho trilhado pelo avô ACM e deverá cobrar o apoio da família Carneiro, o que será muito difícil de negar, a menos que a própria Maria Luíza imponha sua candidatura à sucessão do marido (também se fala nesta hipótese).

Por questões políticas, ideológicas ou filosóficas, o prefeito não terá nenhum problema em dar apoio a qualquer um dos lados. O seu problema, a meu ver, vai ser quando tomará a decisão, uma vez que não poderá ser muito cedo – para evitar o fechamento das torneiras federais ou o acirramento dos ânimos dos democratas contra ele – nem muito tarde.

De uma coisa eu sei, e muita gente também: a experiência mostra que não dá para acreditar nas juras vindas do Palácio Thomé de Souza.

Por Paixão Barbosa

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