domingo, 24 de outubro de 2010

Criminosos ameaçam líderes comunitários de áreas carentes


Durante dez anos, Marcelo* dedicou pelo menos cinco horas por dia em atividades para os moradores do Subúrbio Ferroviário. Mas sua trajetória como líder comunitário foi interrompida por traficantes, que assassinaram a pauladas sua cadela, uma rottweiler chamada Princesa. Com a vizinhança, deixaram o recado: o mesmo que fizeram com a cachorra fariam com ele. Para o líder comunitário de 32 anos não restou alternativa diante da ameaça. No dia seguinte em que o animal foi morto, deixou o bairro onde morou por 18 anos e abandonou as atividades que desenvolvia. Hoje, convive com o medo, morando com amigos em outro local. “Eu saí de lá por causa da marginalidade. Não ia esperar fazerem comigo o que fizeram com minha cachorra. Mataram ela de forma muito cruel”, conta. Já são oito meses longe da comunidade onde dava aulas de alfabetização para jovens e adultos. “Essas atividades comunitárias ajudam a gerar uma ocupação, principalmente para os jovens, em vez de ficarem nas ruas com pessoas erradas”, esclarece. A expulsão do bairro se deu após um desentendimento com a mãe de um traficante. “Nós estávamos entregando os documentos de moradores que participaram de uma atividade na associação. Ela queria que eu agilizasse a entrega do comprovante dela, que não estava pronto. Quando eu disse, ela não gostou”, diz. Segundo um amigo de Marcelo, que também trabalhou na associação, a moradora ainda insultou o líder comunitário pelo fato dele ser homossexual. “Ela achou que por ser mãe de traficante teria prioridade. Disse que ele iria se arrepender”, relata o amigo, que também já sofreu ameaças de traficantes. Depois de matar a cadela, traficantes invadiram a associação em busca de Marcelo. “Aqui, a situação é difícil. Falta segurança. Até a imprensa só pode entrar com a polícia. Os traficantes chamam os jornalistas de conspiradores”, destaca o morador.


RISCOS

Apesar do trabalho que desenvolvem em prol da comunidade, pode resultar até mesmo em assassinatos. Dia 13 deste mês, o presidente da Associação Comunitária Esportiva e Protetora do Manguezal São Bartolomeu, Cosme do Amor Divino Santiago de Jesus, 39 anos, foi encontrado morto, com vários tiros na cabeça, no porta-malas do carro comprado há menos de três meses, em uma rua de barro que liga Pirajá à BR-324. Cosme foi surpreendido por quatro homens armados quando estacionava o veículo próximo à rua em que morava para falar com vizinhos. Segundo testemunhas, houve um disparo e ele foi obrigado a entrar no carro junto com os homens armados. Ao mesmo tempo em que era abordado, outros dois homens já estavam na casa de Cosme e renderam a esposa e o filho de 7 anos, mas nenhum dos dois ficou ferido. O líder comunitário morava e atuava na localidade conhecida como Boiadeiro, que fica próximo ao Parque de São Bartolomeu, no Subúrbio Ferroviário, e reclamava com frequência do tráfico de drogas na região. Segundo parentes, ele não admitia que os traficantes vendessem drogas perto das crianças que participavam do projeto. “Ele construiu a sede da associação do lado de uma boca de fumo e reclamava dos caras que vendiam drogas perto das crianças”, contou um dos parentes da vítima. Persistência Na Ilha de Itaparica, o líder comunitário Agenor*, que há 25 anos desenvolve atividades na região, diz que as ameaças são feitas até mesmo quando ele tenta buscar soluções para problemas rotineiros do bairro. “Quando faço pedidos para a prefeitura, eles (os traficantes) me ameaçam de morte. Somos reféns dos traficantes. Eles não deixam que façamos nada em prol da comunidade”, denuncia. Já em Mussurunga, onde em 2008 traficantes mataram sete pessoas, as ameaças nem sempre partem do tráfico. Segundo o líder comunitário Gilson Lopes, 40 anos, ser líder é brigar pelo bairro. “É trabalhar para levar para aquelas pessoas tudo aquilo que os políticos prometem na hora do voto e não cumprem depois”. Mas ele admite que buscar melhorias incomoda. “É óbvio que isso desagrada a algumas pessoas. Mas, aqui, pelo menos, a maioria dos traficantes é até parceiro. Já recebi ameaça sim, mas de PM”. As informações são do A Tarde.

Fonte: Bahia Reporter

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