quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

A Polícia e a Mídia





Às três horas da manhã encontram-se reunidos na sala do SI de uma Delegacia Territorial que atende a uma área com alto índice de violência doze investigadores de polícia e um delegado, todos protegidos com os seus coletes anti balísticos, pistolas em punho fartamente municiadas, material recentemente adquirido pela Secretaria da Segurança Pública.

Em frente à Unidade, três viaturas novinhas estacionadas, aguardando os guerreiros da tropa que estão prontos para partir para campo, no afã de realizar um bom trabalho, com prisões, apreensão de armas e drogas. Afinal, com isso sonhávamos quando prestamos concurso para a Polícia Civil: a busca da verdade, o desvendar dos mistérios, e elucidação dos mais complicados casos que afetam a tranquilidade da população! Tecnicamente falando, comprovação da materialidade e identificação da autoria dos fatos delituosos.

Em cima da mesa do delegado, além da pizza com guaraná que agrada ao paladar e promove integração e harmonia da equipe, a arma mais poderosa, a INFORMAÇÃO.

A Polícia não pode correr o risco de trabalhar na base do improviso, lançando-se a ermo, atirando no escuro, pronta para ser devorada pelo universo do crime que se encontra aparelhado e muito bem organizado desde um pequeno núcleo, uma singela comunidade na beira da praia , colônia de pescadores, até o um morro estrangeiro, do alemão. Às cegas, tornamo-nos alvos.

Sem informação, é impossível dar o primeiro passo!! Não há o que se fazer a não ser manter nos registros policiais mais uma ocorrência, que vai engrossar a estatística dos fatos noticiados e não elucidados. E com tantos casos sem solução, a credibilidade da Instituição escoa pelo ralo do esgoto.

E o povo, coitado, grita "meu Deeeeeeeeeuuuss"!!! E busca socorro na imprensa de “S.Valera”, registrando o seu BO nos mais populares programas de denúncias, porque ali tem quem faça ecoar o seu problema; porque ali, quando se abre a boca, a terra estremece e a engrenagem do sistema começa a funcionar.

É um tal de liga daqui, chama à responsabilidade os de lá, repita-se os de lá, porque a culpa é sempre dos outros; movem-se os pauzinhos, chama a Polícia, a SUCOM, o Ministério Público, qualquer órgão que seja realmente competente, até que os dali parem de falar, de soltar chispas de críticas que podem incendiar toda uma gestão, com direito a identificação e escracho do Judas. Pronto, tudo resolvido, a paz volta a reinar.

Na faculdade de Direito aprendi que o que não está nos autos não existe, será que não queriam dizer que o que não está na TV, rádio e jornais não existe?

Mas de nada adianta o microfone ou o vozeirão, se a arma poderosa não se fizer presente na imprensa também. A INFORMAÇÃO!! Aí está a zona de intercessão entre a Polícia e a Mídia!

Sim, porque sem essa ferramenta não se escreve o primeiro parágrafo de uma matéria, a não ser que se tenha uma imaginação muito fértil e nenhuma responsabilidade.

Mas, sem responsabilidade não vale. É o mesmo que prender o inocente, e o pior é que a ídia pula todas as etapas do processo e condena no primeiro flash. O sujeito que tem a sua cara estampada na tela nunca mais tem sossego, fica marcado, porque a imprensa estabelece as verdades absolutas, que são reverberadas entre aqueles que nada tinham a dizer, porque pensar dá trabalho, ter opinião é privilégio de poucos e está em extinção, então passam a repetir. E uma mentira repetida mil vezes, como diz o meu pai, vira verdade.

A Polícia e a Mídia andam pegadas. De mãos dadas caminham em direção ao dever para com a sociedade na elucidação dos fatos, no compromisso com a verdade.

Compromisso com a verdade é respeito para com as pessoas, para com a sociedade e principalmente para consigo mesmo, enquanto profissional. Compromisso com a verdade é não se deixar iludir pela fama. É colocar Deus no coração, ter humildade, e vencer a tentação de ostentar poder, por vaidade.

Informação confere poder, muito poder. Por isso a terra estremece quando se chama a Polícia, ou quando se grita ao microfone. Mas sem responsabilidade, nem a Polícia nem a Mídia se sustentam, porque a base, a fundação, aquela estrutura que fica debaixo do chão, com importância muitas vezes esquecida pelas pessoas, chama-se CREDIBILIDADE, sem o que, meus caros, todo o conceito e respeito escoam pelo ralo do esgoto, eu digo mais uma vez.

Acontece que ninguém consegue repetir uma mentira mil vezes, porque as versões mudam a cada instante quando o fato não existiu. Assim, não há mentira que consiga virar verdade. Cada vez que se conta o mesmo conto se altera um ponto.

Então, parabéns aos meus queridos colegas, profissionais de segurança que realizam um trabalho sério e honesto! Parabéns aos meus amigos comunicadores, que têm no compromisso com a verdade o sustentáculo do seu sucesso que certamente se solidificará cada dia mais, até que sejam eternizados na historia da imprensa baiana,

Vamos enaltecer a boa Polícia e a boa Mídia.

E nesse caminho, nada mais resta a dizer senão, muita paz a todos vocês, profissionais de consciência tranquila.

* Patrícia Nuno é delegada de polícia e foi candidata a deputada estadual pelo PMDB.

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