segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Entrevista Tribuna da Bahia com o Deputado Zezéu Ribeiro


Tribuna da Bahia – Por que tanta dificuldade para emplacar ministros baianos no governo Dilma?


Zezéu Ribeiro – Olha, baianos, já tem até alguns. Tem o Mário Negromonte, que é baiano. Tem a Luiza Bairros, que não é baiana, mas está erradicada na Bahia há muitos anos. A Lúcia Falcón, que é baiana, está em Aracaju, e vai para o Desenvolvimento Agrário. Quer dizer, tem baianos. Eu acho que, no PT, a gente cometeu um erro, porque teve um Ministério muito paulistano. Dos oito primeiros cargos de ministros, eram oito do PT e oito de São Paulo, então, eu acho que isso é um equívoco. Você tinha que pluralizar mais geograficamente esse processo. Depois, se você imaginar uma postura estratégica do crescimento do partido, o Nordeste deu uma vitória mais expressiva. Para você ter uma ideia, o PMDB tem três dos cinco ministros nordestinos, o PSB, dos dois ministros, dois são nordestinos, o PCdoB, possivelmente, terá a Luciana (Santos, PCdoB). Então, a região Nordeste vai ter uma porção de ministros e são ministros não petistas. O PT ficou numa situação difícil em relação a isso e eu acho isso ruim.

Tribuna – Foi uma falha do PT baiano, uma falha do governador?

Zezéu – Não, eu acho que a gente, no PT, sofre. Eu faço política desde a política secundarista. Na política secundarista, universitária, profissional, sindical, a gente tem uma mentalidade daquela coisa da locomotiva puxando os vagões. Veem o Brasil a partir de São Paulo e essa é uma perspectiva ruim e esta se afirma culturalmente nesse processo todo pela pujança, pela importância que se tem em São Paulo, e isso acaba minimizando todas as outras áreas. Faz parte da cultura paulistana, e o PT é dependente desse processo.

Tribuna – O governador Jaques Wagner fala muito da relação pessoal com a presidente Dilma. Ele estaria com dificuldades para garantir espaço na formação ministerial?

Zezéu – Ele colocou as nossas reivindicações. Não foi contemplado, a princípio. É um processo de conquista de espaço. A nível dos investimentos, ele tem conseguido atrair coisas importantes para a Bahia e ele quer projetos, quer alterar esse padrão da Bahia e vai fazê-lo no curso do processo.

Tribuna – A Bahia tem hoje a Integração, a Cultura, o Esporte, a CGU, a Petrobras. Qual deveria ser o espaço do PT baiano na nova formação ministerial?

Zezéu – Isso não é pontificável dessa forma. Você fez, inclusive, uma generalização boa porque você tem dois que estão fora da Bahia há muito tempo e não têm hoje essa ligação com o estado, e não foi por indicação da Bahia. Então, aí a gente pode ampliar. Mas o que a gente tem que ter condição é de ter presença no cenário nacional e ter capacidade de influenciar decisões políticas. Isso se faz através da bancada, através do governador e da representação ministerial também. Eu acho que nesse ponto a gente é credor.

Tribuna – A Bahia teve grande relevância na eleição federal. O PT baiano não estaria sendo desprestigiado pela não presença de um petista na composição do Ministério dela?

Zezéu – Não dá para ficar chovendo no molhado. Eu já coloquei essa questão. Não dá para medir dessa forma. Agora, eu acho que o Nordeste como um todo, o PT do Nordeste como um todo, pela importância, e a Bahia, em particular, terminaram não tendo a representatividade que mereceu no quadro ministerial.

Tribuna – Existe alguma possibilidade de o PT nacional ceder espaço de decisão para outros estados? A Bahia tem pleiteado isso junto à executiva?

Zezéu – A gente não pode fazer guerra, mas temos que lutar por um tratamento diferenciado para o Nordeste porque se a gente trata igualmente os desiguais, a gente acirra a desigualdade. Isso se dá no âmbito das políticas públicas. Temos feito políticas públicas que levaram a um crescimento maior do Nordeste do que a média nacional. Isso se dá através de injeção de recursos e, para isso, a representatividade nesse sentido é fundamental. Então, nós vamos lutar por isso. Eu coordenei a bancada do Nordeste nesses quatro anos e usei esse espaço para podermos trabalhar nessa diferenciação. Agora a gente tem que avançar. A gente precisa ter efetivamente implantada uma política nacional de desenvolvimento regional. Recriamos a Sudene, mas, infelizmente, ela não teve força em posição dos vetos colocados ao projeto e, por inépcia da administração, a gente ficou sem alavancar como deveria e, por essa razão, não criamos o Fundo Nacional de Desenvolvimento Regional, mas criamos o arcabouço de uma política nacional de desenvolvimento regional. Então, quer dizer, são avanços setoriais, pontuais, às vezes gerais, mas acho que não chegam ao desiderato maior e agente vai construindo e, com certeza, alterando essa realidade.

Tribuna – Expectativas para o governo Dilma. Qual será a maior vantagem encontrada e o maior problema herdado, para ser administrado?

Zezéu – Dilma já encontra um espaço aberto para começar. Existe uma resistência ideológica, muitas vezes até dos próprios parceiros, mas o governo Lula conseguiu um sucesso extraordinário, então isso abriu o caminho, é uma grande estrada aberta para isso. Essa é a vantagem que ela tem. Ela foi eleita, inclusive, em cima disso. Claro que a influência pessoal de Lula tem, mas não é porque Lula faz um bom discurso, é também por isso, mas é porque Lula mudou a realidade do povo. Nós criamos um processo de mobilidade social extraordinário com distribuição de riquezas, quebramos o paradigma de que é preciso concentrar para crescer. Entendemos que, para crescer, precisamos distribuir para criar um mercado interno e esse mercado interno fosse indutor do crescimento e isso deu certo.

Tribuna – Formação do secretariado Wagner. Acredita que o governador conseguirá imprimir um ritmo mais técnico à sua gestão?

Zezéu – Na política, a técnica vem como aporte. Nós temos que ter um secretariado com uma perspectiva política concreta, de incrementação dessas políticas e compreensão das prioridades, e que você tenha um respaldo técnico para isso. Então, você tem que fazer a composição desses dois fatores. Tem que ter a capacidade técnica de respaldar uma política concreta de transformação da realidade. Eu espero que as alterações que vão ser feitas, que não vão ser completas - é um governo de continuidade, não de afirmação, respaldado enormemente nas urnas, pela votação expressiva - são só do governador. Mas, por termos eleito a maior bancada do nosso partido e constituído maioria na Câmara Federal e na bancada da Bahia, fazendo na Assembleia Legislativa a maior bancada, por termos eleito os dois senadores, eleito a presidente da República com uma margem espetacular, isso nos dá uma tranquilidade muito grande de estar em sintonia com os anseios populares. Agora, isso não pode parar. Tem que ser respaldado com as forças da sociedade, com movimento social, com empresariado, com o corpo acadêmico, técnico, que escute, que participe, a sociedade organizada como um todo.

Tribuna – Como acomodar tantos partidos em tão poucos espaços no primeiro escalão do governo?

Zezéu – Tem muito espaço. Temos que ocupar esse espaço sem aparelhamento, ocupando-o de forma republicana, mas com o partilhamento das forças. Tem uma crítica à amplitude que está tomando na Assembleia Legislativa. A gente não precisa ser tão grande porque aí a gente traz o inimigo para dormir com a gente e isso é ruim. Então, a gente tem que diferenciar essa questão e não se submeter a uma maioria que termina sendo uma maioria falsa. Tem que agregar mais. Ter uma base mais sólida, mais coesa e consequente nesse processo.

Tribuna – Há um risco para o governador com esse inchaço na bancada governista?

Zezéu – Eu não posse chegar e afirmar isso, mas me cheira a uma coisa que não é boa.

Tribuna – O senhor tem alguma pretensão de participar do governo Wagner?

Zezéu – Eu fui reeleito para ser deputado. Estou buscando meus espaços na Câmara Federal. Acabei de ser nomeado agora como relator da medida provisória (MP) 514, que trata das operações do projeto Minha Casa, Minha Vida. Estou me credenciando para participar esse ano da Comissão do Orçamento, quero continuar o trabalho que venho fazendo na Comissão de Desenvolvimento Urbano, quero participar da Comissão do Meio Ambiente. Então, estou estruturando meu mandato. Essa foi a tarefa que o povo me deu. Se vier uma outra coisa, a gente vai ter que discutir o que fazer, como fazer e que condições a gente vai ter para fazer.

Tribuna – Qual a avaliação do senhor sobre a gestão do prefeito João Henrique?

Zezéu – Eu acho que a administração de João Henrique se apartou da cidade, está a serviço de alguns grupos econômicos. Desde o início passou por dificuldades. Nós fizemos um esforço no primeiro dele de participar, saímos de uma forma que eu acho que foi ruim porque não dialogamos com a sociedade no sentido de mostrar a diferenciação do nosso projeto para o que estava sendo realizado e terminou parecendo um oportunismo eleitoral, retardamos esse processo, saindo sem uma preparação. A população deve ser tratada como aliada, fazendo críticas, mas críticas construtivas, na expectativa de ficar e não na expectativa de sair. Se for fazer uma avaliação a respeito de ficar ou sair, eu assumo também a responsabilidade coletiva disso também, não estamos transferindo para ninguém e o governo foi se esvaindo, perdendo sua legitimidade. Infelizmente, acabamos passando por essa situação.

Tribuna – O que o senhor considera ser o maior erro e o maior acerto da gestão de João Henrique?

Zezéu – Olha, o processo, formalmente, se aplica com a deterioração do plano diretor. O plano diretor foi uma encomenda atendendo a determinados segmentos do setor econômico e não da cidade como um todo. A gente vive, então, uma deterioração do espaço urbano, uma dificuldade cada vez maior de mobilidade, por ações até externas, quer dizer, essa volúpia da indústria automobilística... Cada dia chega mais carro do que nasce gente, essa coisa vai crescendo e não tem solução. Ou a gente enfrenta a questão do transporte de massa e cria outro mecanismo de mobilidade urbana, ou a gente pensa a cidade para trabalhar o não transporte... Quer dizer, as pessoas têm acesso a muitos desserviços, que deveriam ter uma relação de vizinhança e não têm. É necessário induzir a localização de equipamentos públicos e privados, criando vantagens para sua localização. Então, a cidade não é olhada com carinho, é olhada como negócio e, aí, ela perde.

Tribuna – Qual será o posicionamento do PT em relação a João Henrique?

Zezéu – O PT tem que ter um posicionamento com relação à cidade de Salvador. A gente tem que discutir profundamente a cidade de Salvador, levantar políticas públicas, buscar ajudar a administração no sentido de que melhore a qualidade de vida da população e combater os equívocos da gestão. A gente tem que ganhar a sociedade e pensar na sociedade, construir uma sociedade melhor, se comprometer, desde as suas relações de vizinhança, de vida, de cuidados com a cidade. Precisamos saber que cidade a gente quer. Qual a expectativa dela. Vem a Copa do Mundo. O que é que fica depois do mundial? Como é que a gente vai ter essa cidade? Como é que a Copa pode induzir um processo de maior circulação?

Tribuna – O Estado deve assumir um protagonismo maior diante desse processo de carência da administração do município?

Zezéu – Temos que respeitar as instâncias dos dois. Temos objetivos comuns. Temos que debater em qualquer instância, tanto governo federal, estadual e municipal, quanto com o empresariado, que venham a construir PPPs com os entes públicos ou iniciativas privadas específicas, bem localizadas, que estejam articuladas com os projetos da cidade.

Tribuna – E 2012? Pelegrino conseguirá construir unanimidade entorno dele, dentro do partido?

Zezéu – Nelson já foi nosso candidato três vezes. Ele tem um reconhecimento no partido, na sua militância, está credenciado a esse processo e agora é só esperar esses dois anos aí para a gente concluir. A gente não pode discutir esse processo a partir do nome. Eu acho que a gente deve fazer uma revisão profunda. Estou me propondo a ajudar nesse processo para a gente pensar Salvador de uma outra forma.

Fonte: Jornal Tribuna da Bahia

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